27.4.06

HÁ QUEM PROCURE...



Há quem procure por abóbadas e abóbadas
um reflexo de sol
há quem procure com a respiração rouca
o silêncio de um nome
a denotação de uma pedra

Há quem procure na trama da distância
uma hélice para a boca
há quem se erga entre destroços e sementes apodrecidas
para escrever no solo com as mandíbulas crispadas
um nome sem sombra

Há quem destine à modulação de algumas cores
a forma viva e voraz de uma mulher
e encontre só o branco ferozmente árido
há quem procure com antenas incandescentes
uma espádua de álcool na abstracção das areias

Há quem julgue que não há tempo para reflectir na noite sem veias
e caminhe de encontro a um muro negro
e há quem tenha perdido a sensação de intacto
e procure ainda uma lâmpada mas as lâmpadas extinguiram-se
há quem se decida a não esperar, a não ouvir, a não chamar.

António Ramos Rosa

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