27.4.06

ANTONIN ARTAUD



Não tenho voz para o teu elogio, irmão maior.
Se me inclinasse sobre o teu corpo que a luz vai dispersar,
O teu riso afastar-me-ia.
O coração no meio de nós, durante aquilo a que se dá o nome impróprio de bela

trovoada,
Cai várias vezes,
Mata escava e queima,
E mais tarde renasce na doçura do cogumelo.
Não precisas de um muro de palavras para altear a tua verdade ,
Nem das volutas do mar para ungir a tua profundeza,
Nem dessa mão febril que nos encerra o pulso,
E ligeira nos leva a derrubar uma floresta
De que as nossas entranhas são o machado.
Basta. Regressa ao vulcão.
E nós,
Que choremos, que te rendamos ou perguntemos: «Quem é Artaud?» a essa espiga de
dinamite de que não se solta nenhum grão,
Para nós nada está mudado,
Nada, a não ser esta quimera bem viva do inferno que se despede da nossa angústia.

René Char


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